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Publicado na Quarta, 18 de setembro de 2019, 19h39
Copom corta Selic para 5,5% ao ano, e deixa aberto espaço para mais cortes

A meta para os juros básicos (Selic) foi cortada em 0,5 ponto percentual nesta quarta-feira (18) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) do Brasil.

A Selic passa de 6% para 5,5% ao ano a partir desta quinta-feira até, pelo menos, 30 de outubro, quando o Copom se reúne novamente para discutir a sua política monetária.

A decisão veio em linha com a aposta, unânime, das 67 instituições financeiras consultadas pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do ValorUnanimidade que também esteve presente entre os diretores do BC, todos favoráveis à tesourada de 0,5 ponto.

 

No comunicado da decisão, o Banco Central (BC) avalia que “diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária”.

 

Ou seja, na visão dos diretores do BC, há espaço para cortes porque a inflação está controlada. Além disso, a autoridade monetária citou o momento conturbado vivido pela economia mundial para justificar a sua decisão:

“No cenário externo, a provisão de estímulos monetários adicionais nas principais economias, em contexto de desaceleração econômica e de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes. Entretanto, o cenário segue incerto e os riscos associados a uma desaceleração mais intensa da economia global permanecem.”

 

A taxa básica vem testando mínimas históricas desde o fim de 2017, quando atingiu 7%. Até então, o menor patamar desde o início do regime de metas de inflação, implantado em 1999, havia sido atingido em 2012 e 2013, quando a Selic ficou em 7,25%.

 

 

A taxa Selic é usada pelo BC no controle da inflação. Quando a alta média dos preços está além da desejada, a Selic é ajustada para cima. Isso encarece o custo de empréstimos e financiamentos, e pressiona o consumo e os preços para baixo. E se a inflação está baixinha e a economia meio paradona? Aí o BC puxa a Selic para baixo, pressionando o consumo e os preços a subirem.

 

A Selic é chamada também de “taxa livre de risco”. Isso porque serve de referência como o piso aceitável de retorno para qualquer aplicação. Só é bom negócio investir em títulos públicos atrelados à Selic, o investimento mais seguro no mercado, se for pra ganhar mais.

 

 

Juros em queda no mundo todo

 

Mais cedo, também o Federal Reserve (Fed, banco central americano) anunciou um corte de 0,25 ponto percentual em seus juros, que foram à altura de entre 1,75% e 2% ao ano.

Na semana passada, o Banco Central Europeu foi pelo mesmo caminho, cortando sua taxa de depósitos em 0,10 ponto percentual, para -0,5% ao ano (sim, juros negativos). Além disso, lançou um novo programa de recompra de títulos públicos, da ordem de 20 bilhões de euros ao mês, e sem data para acabar.

 

Em todos esses casos, a luta dos bancos centrais é contra a possibilidade de recessão.

 

No caso do Brasil, o risco de recessão é por problemas bem nossos. A crise fiscal está gritando desde 2014 até aqui, anos em que o país tem colecionado déficits fiscais. A reforma da Previdência, apontada por economistas como a solução do problema, embora aparentemente bem-encaminhada no Senado, ainda não foi aprovada.

Nos países desenvolvidos, os principais motores de uma possível recessão são geopolíticos. Estados Unidos e China, há mais de 18 meses, estão em guerra comercial. As duas maiores economias do planeta já enfrentam desaceleração, causada sobretudo pelas barreiras tarifárias erguidas um contra o outro – na China, por sinal, também são aguardadas medidas da autoridade monetária para breve.

Na Europa, que também sofre os efeitos desse conflito, o impasse com a saída do Reino Unido da União Europeia traz ainda mais nuvens para o horizonte carregado da economia, o que mina a confiança e os investimentos.

 

Leia a íntegra do comunicado do Copom desta quarta:

 

Em sua 225ª reunião, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 5,50% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

Indicadores de atividade econômica divulgados desde a reunião anterior do Copom sugerem retomada do processo de recuperação da economia brasileira. O cenário do Copom supõe que essa retomada ocorrerá em ritmo gradual;

No cenário externo, a provisão de estímulos monetários adicionais nas principais economias, em contexto de desaceleração econômica e de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes. Entretanto, o cenário segue incerto e os riscos associados a uma desaceleração mais intensa da economia global permanecem;

O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;

As expectativas de inflação para 2019, 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,5%, 3,8%, 3,75% e 3,5%, respectivamente; e

No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,3% para 2019 e 3,6% para 2020. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 5,00% a.a. e permanece nesse patamar até o final de 2020. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2019 em R$/US$ 3,90 e permanece nesse patamar até o final de 2020. No cenário com juros constantes a 6,00% a.a. e taxa de câmbio constante a R$/US$ 4,05*, as projeções situam-se em torno de 3,4% para 2019 e 3,6% para 2020. O cenário híbrido com taxa de câmbio constante e trajetória de juros da pesquisa Focus implica inflação em torno de 3,4% para 2019 e 3,8% para 2020.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, (i) o nível de ociosidade elevado pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (ii) uma eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. O risco (ii) se intensifica no caso de (iii) deterioração do cenário externo para economias emergentes.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 5,50% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2020.

O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

O Copom avalia que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo é essencial para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes. Em particular, o Comitê julga que avanços concretos nessa agenda são fundamentais para consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva.

Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve ajuste no grau de estímulo monetário, com redução da taxa Selic em 0,50 ponto percentual. O Comitê avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir ajuste adicional no grau de estímulo. O Copom reitera que a comunicação dessa avaliação não restringe sua próxima decisão e enfatiza que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (Presidente), Bruno Serra Fernandes, Carlos Viana de Carvalho, Carolina de Assis Barros, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.

 

 

Para o fim do ano, a pesquisa Focus da última segunda-feira, apurada pelo BC entre cerca de cem bancos e consultorias, mostra a maioria das apostas em 5% ao ano no fim de 2019 - o que implicaria mais cortes.